
Um relatório recente da Fair Play 2008, organização criada pela Clean Clothes Campaign, pela Confederação Internacional de Sindicatos (ITUC) e pela Federação Internacional dos Trabalhadores das Indústrias Têxtil, Vestuário e Calçado (ITGLWF), intitulado "Ultrapassando as barreiras", analisa a indústria dos artigos esportivos através de entrevistas com mais de 320 trabalhadores na China, Índia, Indonésia e Tailândia. Os investigadores da Fair Play não só relatam que os trabalhadores de multinacionais como a Nike, Adidas, Converse, Puma, Reebok ou New Balance ganham salários miseráveis apesar dos crescentes lucros destas empresas. Os pesquisadores concluiram que "as violações dos direitos dos trabalhadores que foram identificadas são normais nas indústrias de vestuários e calçados esportivos". Mais de 15 anos depois da maioria das grandes empresas terem adotado códigos de conduta nas empresas, os trabalhadores que, na Ásia, produzem os artigos para estas marcas estão sujeitos a "pressão extrema para cumprir quotas, fazem horas extras excessivas sem remuneração, sofrem abusos e ofensas verbais ou estão expostos a substâncias químicas tóxicas". Tudo isto, sublinha ainda o relatório, "sem programas de saúde ou outras formas de seguro exigidas por lei, e sem liberdade sindical para poder negociar coletivamente salários e condições de trabalho". O objetivo da Fair Play 2008 é obter do Comite Olímpico Internacional - COI, bem como dos comitês e governos de cada país, um compromisso de que serão tomadas medidas para eliminar a exploração e o abuso dos trabalhadores na indústria de desporto mundial. Razão porque abre o relatório com a dimensão econômica do evento. Beijing deverá receber 800 mil estrangeiros, além de um milhão de visitantes de outros pontos da China. "Um ano depois dos últimos Jogos Olímpicos estimava-se que o mercado mundial de calçado, roupa e acessórios esportivos valia cerca de 74 bilhões de dólares" - diz o documento. Estas mesmas empresas pagam, na Ásia, por uma jornada de trabalho diário entre 12 e 13 horas, 1,25 euros por dia para fazer calçados e o,30 por cada bola feita à mão. Na China, um par de Adidas custa entre 55 e 110 euros, ou seja, quase o salário mensal do trabalhador que a produziu, enquanto na Índia ele recebe entre 0,25 e 0,55 por cozer uma bola, o que pode levar entre duas a quatro horas. No Paquistão, os salários estão congelados há seis anos, mas o índice dos preços ao consumidor aumentou 40%, e no Bangladesh, um trabalhador recebe um salário mínimo de 24,30 euros, cujo valor real é inferior ao de 1995 e não permite pagar três refeições diárias.
Redação Sport Marketing