
O mundo fervia, com manifestações por toda parte. Na Tchecoslováquia o governo tentou se afastar de Moscou veio a “Primavera de Praga”. A União Soviética invadiu Praga. O líder negro Martin Luther King foi assassinado. O mundo queria mudanças e esse desejo não era diferente no esporte. México, 1968! Na própria cidade sede dos Jogos Olímpicos, cerca de dez mil estudantes ocuparam a Plaza las Tres Culturas em protesto contra a ocupação de militares em duas universidades públicas. A prova dos 200 metros foi vencida pelo afro-americano Tommy Smith, dono de 11 títulos mundiais em corridas de curta distância, assombrando o mundo. Era a primeira vez, que se alcançava esse recorde em menos de 20 segundos. O bronze ficou com John Carlos, afroamericano e aluno do San Jose State College, da Califórnia, mesmo college de Smith, que liderava a prova, mas desconcertou-se com a performance de Smith e acabou abrindo espaço para o australiano Peter Norman conseguir o segundo lugar. Na hora de subir ao pódio para receber as medalhas, o que aconteceu ali ficou na história do esporte e marcou as imagens dos anos 60. Dois negros americanos de punho erguido, cabisbaixos e descalços, em protesto contra o racismo.“O protesto foi planejado pelos americanos ainda no campus da faculdade, na Califórnia. Caso um deles conquistasse medalha, usaria o pódio como palco para denunciar a desigualdade racial nos Estados Unidos. O público que lotava o Estádio Nacional não percebeu de imediato o que se passava. Foi com o semblante carregado que os atletas acompanharam o içamento das bandeiras. Aos primeiros acordes do hino nacional, Smith ainda pareceu entoar a letra. Depois se calou e abaixou a cabeça. Começou, então, a erguer o braço direito enluvado, em sincronia com o braço esquerdo de Carlos. A saudação "black power" tinha invadido os Jogos Olímpicos. Norman foi crucificado pela imprensa de seu país e recebeu reprimenda do Comitê Olímpico Australiano. Para Smith e Carlos as conseqüências foram implacáveis e duradouras. De imediato, o Comitê Olímpico Internacional – COI –, proibiu que os dois velocistas tivessem outras participações (ambos estavam escalados para integrar a equipe americana de revezamento) e exigiu a expulsão da dupla da Vila Olímpica. Smith e Carlos retornaram aos Estados Unidos como párias, acusados de introduzir política no olimpismo e de querer destruir o tecido social de seu país. “Mas qual país?”, perguntavam em uníssono. “A América branca diz que somos americanos quando vencemos e que somos negros quando fazemos algo que julga errado.” Apesar dos ataques e do ostracismo, nem Carlos nem Smith mudaram de posição. Quem mudou foi o curso da história. Às vésperas da Olimpíada de 1984, John Carlos foi ressuscitado pelo Comitê Organizador dos Jogos de Los Angeles para promover o esporte junto à juventude negra. Smith foi chamado a treinar uma equipe de atletismo. Em 1999, a faculdade San Jose State, de onde ambos tinham saído três décadas antes, inaugurou uma estátua comemorativa ao gesto dos ex-alunos. Quarenta anos depois, quando questionado se os atletas devem ou não usar os Jogos Olímpicos para protestar contra a repressão chinesa a manifestações de monges no Tibet, John Carlos disse ao jornal francês Le Monde que se ele fosse competir, encontraria uma forma de expressar oposição à China. "Se eu fosse um atleta hoje, eu saberia como ser criativo e eu faria uma declaração para mostrar que discordo do que está acontecendo", disse ele ao jornal. "Quando você faz esse tipo de declaração pública, você manda uma mensagem de coragem ao mundo." Carlos carregou uma "tocha pelos direitos humanos" durante protesto em San Francisco no dia 5 de abril, poucos dias antes de manifestações pró-Tibet terem causado transtorno à passagem da tocha olímpica de Beijing pela cidade. Ele disse ao Le Monde que o Comitê Olímpico Internacional estava errado por escolher Beijing como sede dos Jogos. "Um dos pontos-chave no caráter olímpico é a não violência. Como podemos falar sobre não violência em um clima tão violento quanto o da China?" Pois bem, mas o Comitê Olímpico Francês não pesna da mesma forma. O presidente Henri Serandour, frustrou as expectativas dos atletas franceses que pretendiam utilizar um broche (pin) com a inscrição “Por um Mundo Melhor” durante os Jogos de Beijing como uma forma de expressar uma visão de respeito aos direitos humanos e a repressão chinesa ao Tibet. Segundo Serandour, os broches, pins ou insígnias foram desde já vetadas porque o estatuto olímpico deve ser respeitado, com nenhuma demonstração de propaganda política, religiosa ou racional podendo ser registrada. “Há mais de 200 países nos Jogos, alguns deles com atletas que têm causas próprias. Não podemos tomar partido por esta ou aquela causa” - afirmou o dirigente ao L’Equipe. As declarações do presidente do Comitê tiveram grande repercussão entre os atletas. “Nós estamos provavelmente em um momento crucial. Se estivermos nos inclinando para o lado de todo o marketing, nós perderemos um pouco dos fundamentos dos Jogos” - afirmou Romain Mesnil, atual vice-campeão mundial do salto com vara. Um coisa é certa, se em 1968, os "Panteras Negras" tivessem avisado que iriam protestar, talvez também tivessem sido impedidos. O segredo, continua sendo sempre o segredo do sucesso.
Redação Sport Marketing