
Hoje em dia há mais caminhões de obras em Beijing do que bicicletas. Não há como negar que a chegada e aproximação dos Jogos Olímpicos mudou o ritmo de vida do país. Quando a noite cai em Beijing e os habitantes se preparam para dormir, as arenas olímpicas que ainda estão em construção são pontos de luz no escuro da capital, onde é sempre dia para os milhares de operários que constróem a cidade, faça chuva, calor ou neve, para sediar os Jogos Olímpicos. A menos de seis meses do início dos Jogos, que decorrem entre 08 e 24 de agosto, a cidade quer ter finalizado todas a parte de infra-estrutura, mas, sobretudo, através da arquitetura, mostrar ao mundo o poder de um país que cresce a mais de 10% ano há quase meia década. Além de operários e caminhões, Beijing chamou arquitetos estrangeiros, novos materiais, as tecnologias mais recentes e projetos audaciosos, como compete a uma super-potência em ascensão. O "Cubo Aquático", inaugurado em fevereiro, é o primeiro destes projetos a ver a luz do dia e é uma mostra do que vem por aí nos Jogos Olímpicos - edifícios futuristas pagos pelo estado chinês, para mostrar o poder da China e do seu governo, tal como as catedrais européias que na Idade Média mostravam a força da Igreja. As construções olímpicas dependem diretamente do governo central, que as financia, mas a utilização desportiva retira-lhes o conteúdo político óbvio. O Centro Aquático Nacional, designação oficial do Cubo Aquático, é uma prova deste esforço chinês. O mais ecológico e mais popular de todos os edifícios olímpicos, o complexo custou mais de 200 milhões de dólares (136 milhões de euros), que pagaram a arquitetura e as soluções técnicas brilhantes. Com a forma de uma caixa de sapatos e três piscinas abaixo do nível do solo, o complexo tem um esqueleto de tubos de aço revestidos por uma membrana opaca com mais de três mil bolsas de ar feitas de plástico reciclado, como se fosse um papel de bolhas gigante. A membrana permite a entrada luz natural, ajudando a aquecer a água das cinco piscinas e a reduzir em 30% a fatura energética. Ao presidente da empresa estatal que detém o complexo, presente na cerimônia de inauguração, não escapou a força política do "Cubo Aquático". "A China e todos os chineses devem estar orgulhosos", disse Li Aiqing, presidente da Asset Management Company. "Eu estou muito orgulhoso e muito emocionado. É um projeto tecnologicamente muito ambicioso em termos de tecnologia e um grande desafio de construção", acrescentou. Os descendentes políticos dos imperadores que deixaram Beijing cheia de legados arquitectónicos - e de poder - como a Cidade Proibida e a Grande Muralha, o Templo do Céu e o Palácio de Verão, utilizam assim os Jogos Olímpicos para deixar uma nova marca na cidade. "Querem dizer ao mundo desenvolvido que chegaram, que têm a capacidade financeira e tecnológica para fazer estes projetos", afirma Antony Wood, do Conselho de Edifícios Altos e de Habitat Urbano. Com os olhos do mundo em Beijing durante os Jogos, o Parque Olímpico chinês, é por isso o melhor lugar para mostrar a nova China, através do "Cubo Aquático"ou de edifícios ultra-modernos como o novo Estádio Nacional, conhecido como "Ninho do Pássaro" ou o Centro de Comunicações dos Jogos. O estádio, com lugar para 91 mil pessoas, será o palco da abertra dos Jogos. Os suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron conseguiram dar conta da encomenda, com uma estrutura de 42 mil toneladas de tubos de aço entrelaçados que recria os galhos de um ninho. Com um custo de 3,2 mil milhões de renminbi (301,54 milhões de euros), as aberturas na estrutura do edifício favorecem a circulação natural do ar, com uma membrana semelhante à do "Cubo Aquático" que protege os espectadores. O "Computador", o edifício onde ficará o Centro de Comunicações dos Jogos Olímpicos é a obra que completa a trindade arquitetônica olímpica, com assinatura do chinês Urbanus. Inspirado no circuito integrado de um computador, o alçado principal tem entalhadas calhas de painéis LED onde corem fios de água. O chão de Plexiglas cria também um tapete digital transparente para projeção de imagens. Com a forma de uma caixa e revestimento em betão, alumínio e vidro, a construção quer também evocar um código de barras, reflectido na superfície aquática que rodeia o edifício. No entanto, por muito que a China queira impressionar, certas coisas em Beijing ultrapassam o poder do estado e a vontade política. O ambiente e a qualidade do ar na cidade, por exemplo, uma nódoa no pano do modernismo ambiental. Uma camada de areia reveste a cara e avançada membrana do "Cubo Aquático" e do interior do edifício vê-se no telhado a poeira de carvão que a chaminé de uma central elétrica vizinha vai cuspindo.
Redação Sport Marketing